18 de nov. de 2008

sonhei com a morte e acordei com um medo absurdo. se sorte e azar dizem a mesma coisa que saída eu tenho? devo ler algo novo sobre interpretação ou semiótica em breve. espero que minha memória ajude. não tenho inimigos. não preciso, tenho a mim. ando falando bastante. coisas erradas pelos motivos certos. ou vice-versa. me recuso a acreditar que não há uma solução mágica para a angústia. amo mais e melhor. continuo sem namorado. dizer que não crio expectativas já é criar uma. meu corpo se expressa com dores agudas. me sinto uma fugitiva da torre de babel. perdida na simplicidade que se apresenta. as vezes as trevas se encontram com a luz. tenho a impressão que é nesse ínfimo instante que a paz surge. fique atento! pode ser que em algum caminho exista mais uma pista. me preparo para desvendar a loucura. antes que seja tarde. preciso tanto ir até o mato. comungar de novo. me despir. me abandonar. desta vez como deve ser.

6 de nov. de 2008

Marc Chagall- Le Cirque bleu (1950)

meu cavalheiro de saia se foi. antes mesmo que eu pudesse desvendar sua segunda pele. o céu e as árvores deste fim de tarde estão terríveis. meu corpo reclama a sede da fonte que esvaziou. parece-me sem sentido dizer o quanto ainda chove aqui dentro de mim. surdo mudo e calejado das minhas contradições. a mulher interessante foi passar férias no Japão. me deixou essa boba e confusa menina desocupada. quanto a casa, deixo-a minimamente preparada para o retorno da deusa. as nuvens nervosas no agito do vento. as vozes das malditas crianças me lembram aquele outro mundo que habitei com tanto ânimo. agora este total descontrole de futuro e passado. presente em mim você como uma marca que nada pode tirar antes de sangrar. já fui a lugares distantes tentar entender. não há explicações para o que é tão profundo. posso decidir pelo certo, mas você não faz parte disto. nunca fui movida pelas escolhas certeiras. teimosia ancestral. meu rei, meu rei. mudei para te ver e perdi tudo no caminho a te buscar. ainda resta para você uma fidelidade grega. mesmo você cego de tanto se enxergar.

28 de out. de 2008


tem um caminho novo ou é só paisagem?
removi as pedras da muralha da china.
construí barragens para as dores.
abri rotas com as asas efêmeras das borboletas.
dos encontros fortuitos levei preciosas pedras.
das águas passadas...
ventos.
antes só que com o medo de braços dados.

a paisagem me diz algo.
de sobressalto entendo o inverso.
o que não se sabe é a salvação.
o que se finda é o recomeço.

Saravá!

27 de out. de 2008

quadro "O abraço dos amantes" - Egon Schiele
você não me conheceu. era seu corpo que falava comigo. falamos javanês chinês latim francês. você nunca reparou. mal trocamos monossilábicas. nossos corpos montaram simpósios. falaram na linguagem dos sinais. leram em braile. desenharam histórias. tudo isso sem você se quer me notar. eu esperando de você nem que fosse um hiato. nada. que silêncio frio que existia. mas nossos corpos não. sempre verão. retóricas sofismos poemas. falamos russo inglês dinamarquês. e nossos olhos só se falaram algumas vezes... quando entre a alma e o corpo diminuía o espaço. mas isso foi em outro tempo. agora ninguém se fala. calamos. porque muito depressa criamos muitos enigmas. porque nossa linguagem não alcançou clareza. porque minh’alma queria falar com a sua. ansiosa aflita. mas só nossos corpos marcavam encontros. e falavam... coisas impronunciáveis e secretas.

2 de out. de 2008

Pintura de Hundertwasser


nunca obedeci a suas regras. fui fiel à natureza. desafiei seus costumes e prisões. confesso que já me senti assustada. terrivelmente solitária. sem chão. mas vi sorrisos lugares pessoas. ouvi canções pássaros ondas. senti a liberdade contundente como faca gelada. o suave torpor da paisagem desmascarada. fiz as escolhas certas mesmo nos caminhos tortamente trilhados. fui fiel e demasiadamente humana. parece-me que agora as coisas estão mais claras. o medo se esconde no recanto escuro dos covardes. sigo para lá e para cá. minha cabeça, minhas mãos. minhas infinitas possibilidades. não afirmo nada e não sei do futuro. o devir. eterno. concordo com o tempo. hoje é um lindo dia.

9 de set. de 2008

Recebi esta homenagem de um amigo novo, mesmo sem inspiração parece que ainda inspiro algo (bochechas coradas...rs)

Obrigada Celso!

Menina feita mulher feita musa feita deusa.
Te descobrindo ponto a ponto, linha a linha.
Cada pincelada um deslumbramento
Descortinada, arrebatada à ribalta, se traduz.
Sempre um passo à frente, um degrau acima, inatingível, surreal.
Escudo, espelho e verdade.
Alada, pairas sobre a pequenês de tudo...
constelada, guia e luz.
Se tuas lágrimas salpicam o céu,
teu sorriso rasga o vel, auroras...
Triunfante, onisciente do que queres e possuis.
Afrontas o medo do caminho.
À frente sempre...
à fronte os louros...
às mãos as armas, divina e mortal...
Áurica, radiante mítica vitoriosa.
Além do idealizado mármore, pulsas.
Única...
Anike!

21 de ago. de 2008


Sem nenhuma inspiração, nenhuma...

Retorno de Saturno segundo o amigo Chico, pode ser também os restos de mais alguém que não ficou e ainda não sei o que fazer, pode ser melancolia, falta de dinheiro, é provavel que seja a ação do tempo, um tempo estranho...

Tempos de ouvir outras coisas, para não ouvir os sambas que amarravam uma história que findou, então salve o Sérgio Sampaio, que tem melodicamente me feito sorrir!

Ai, ai...


Em nome de deus

Sérgio Sampaio


Eu nunca pensei que pudesse querer

Alguma mulher como quero você

Se o mago soubesse

Juntasse o meu nome em S

Ao seu nome em C

Nas cartas de todo tarot que houver

Em todo o I-Ching eu podia não crer

Mas tudo é tão verde em seus olhos

Não dá pra não ver

Mas tudo é tão verde em seus olhos

Você que se esconda, que eu vou procurar

Você nem se iluda, que eu vou lhe encontrar

Você pode ir e sair e sumir por aí

Que não vai se ocultar

Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê

Eu pego carona até na Challenger

E vou nos anéis de Saturno buscar por você

E vou nos anéis de Saturno

Sem ser João Batista, você batizou

Meu corpo na crista das ondas do mar

E aí me abriu feito ostra

E colheu minha pérola pra Yemanjá

Agora que estou à mercê de sua luz

Em nome das águas lá de Bom Jesus

Em nome de Deus, me carregue

Me pregue em sua cruz

Em nome de Deus, me carregue

23 de jul. de 2008

casa completamente entregue aos meus bichos soltos. jaguatirica de boteco. novas tentativas com novos sons e temperos. remendos retalhos. minhas queridas escudeiras continuam a me defender. saudosismo reflexivo para tempos de invasões bárbaras. três reis magos passaram e não me deixaram nada. bagunço tudo. não sou tão frágil quanto posso parecer. não como pelas bordas. me jogo de cara no prato. sou tormenta carinhosa. flores selvagens na mesa. não venha ave rapina não pense que levou minha paz. sou tempestade disfarçada de garoa. continuo na guerra insana pela descoberta. já fui a criança mais linda do mundo. sigo mesmo sem você. falta um pedaço do livro que colori. minha estante está cheia de poesia e mar. meu rio se despede das águas escuras. vejo de novo o brilho das coisas que esqueci. memória instantânea com fermento biológico. esfinge na madrugada fria. meu batom vermelho e eu fizemos um pacto. me resta sorrir.

4 de jul. de 2008


bem-vindo! não se assuste. tenho uma impressão boba da vida. tempo medido pelas sensações. criança hedonista. não enxergo um palmo além do que posso entender. o oficio me rende momentos de distração. minha selvageria eu canso com a labuta. horas árduas de cansaço transcendental. por não saber onde ir sempre chego ao lugar certo. enxergar muito ver pouco. a única certeza é o amor. mesmo na recusa. mesmo em sua ausência. porque amar me parece um gesto quase solitário. a falta de ti eu sinto em mim. pedaço que perdi logo que encontrei. tenho essa impressão boba da vida. misturo a finitude e a eternidade. moram juntas na caixa de xadrez. antes disso era só compreensão. aprendo a viver e morro aos poucos. agora há de fato uma vida. já não sinto os minutos contundentes. sinto algo que se alastra criando um novo caminho. força de uma história. tenho uma impressão inquieta da vida. que só sossega nos teus braços...
Imagem - Louise Bourgeois , Recent works.

9 de jun. de 2008

toda lágrima caída uma espera. toda ausência sentida uma busca. toda essa casa ainda inacabada outra metade. todo trabalho árduo matar a saudade. todo o coração contido um medo. toda essa mulher puro desespero. vou em frente nem sei porquê. tem um pouco de meu pai. tem um pouco de minha mãe. tem um pouco de arte. tem um pouco só vontade. tem aquilo que não sei o quê. tem a magia que ainda vive. tem a criança que me habita. tem a vida que me chama e eu não sei dizer não. tenho disponibilidade para o sorriso e a dor. tenho em mim a mais pura ingenuidade e a maior força. não me entrego ao conforto nem ao cômodo. continuo pequena e destemida. carente e frágil. sou uma mulher. sei o meu legado. tenho o estranhamento de Clarice. a culpa de Adélia. arteira Camille. rompante Elis. Amélia Atenas Afrodite. na tristeza Dolores. na solidão Hilda. na fé Iemanjá. na angústia Abramovic. na expressão da dor Bibi. colorida Carmem. no grande amor hei de ser Marieta Dorine Beauvoir.

28 de mai. de 2008

uma gatinha pela casa. enroladinha em seu novelo de sentimentos. branquinha como alma de bebê. dentro guarda a fera a bela a bruxinha dela. fêmea completa com todos os jeitinhos. mil almas da bichana. olhares atentos. dengosa soturna. carinhos bem lentos para não arranhar seu coração.

lá vai ela arrastando pela casa toda sua solidão...

27 de mai. de 2008

trago o peito marcado e a vontade de viver. não desisto fácil e sei esquecer. vivo o passado no futuro e o presente a mercê. ando pequena para disfarçar meu universo. sou gente grande querendo ser o inverso. vou com a maré com a ralé com o que vier. presto atenção nas escolhas mas não no caminho. vivo na cidade mas construo é meu ninho. já fui mais sozinha e continuo passarinho.

vôo longe
um pouco aflita
e essa angústia maldita?

antes voar mais e pensar menos...

20 de mai. de 2008

procissão da saudade na rua do não. passei carregando a minha cruz. te achei me perdi. odoiá minha mãe. as orações não funcionaram. minha fé se esvai. fui peão nesse jogo. acreditei ter encontrado meu bem. fostes tão displicente com o sagrado. restituo minha crença. desisto desta penitência. estandarte da dor. meus sentimentos enfeitam seu chão. resignada te abandono. seu santo não quis o meu. tristeza em riste. meu coração de novo judiado. vigília em minh'alma. minhas preces estão gastas. anjo da guarda seca minhas lágrimas. você era meu e não sabia. derradeira declaração. não sei o que fazer com o que era para ser seu. dei mais do que você podia receber. via crucis da paixão. quanto pecado suporta um amor? veio bandido se foi ferido. ELE não perdoa seu medo. em volta a aridez. vou apagar aquela promessa. começar uma novena. refazer os meus pedidos. me proteger da solidão.comprar um patuá. desistir de te buscar. exagerar na oração.
Obra "Anunciação" de Farnese de Andrade.

15 de mai. de 2008

estou aqui nesse lugar iluminado de tristeza. meu tempo está curto como meus cabelos. minha casa mais vazia que nunca chora quando eu saio. aquele homem nunca mais apareceu. insisto no impossível porque gosto da possibilidade do milagre. parece-me que alguma coisa em breve vai acontecer. os dias tem sido lindos longos criativos. o medo não tem aparecido. continuo à flor da pele. o oratório anda silencioso. perdi quilos gargalhadas carinhos em horas de burocracia. justo. sou essa mulher que continua sem estrela guia. trilho sozinha o caminho que mapeei para meu bem. às vezes nada tem sentido. continuo mendigando o que me devia ser dado. dar receber. só cheguei até aqui porque não gosto de ficar parada. anti passiva autista autônoma. umas cinco pessoas elogiaram meu sorriso nos últimos dias. fico feliz com isso. posso andar desacompanhada. continuo só amor e estranhamento. não estou ao Deus dará. conjugo os verbos no tempo certo e Saravá!

30 de abr. de 2008



Estou lendo Carta a D. , de André Gorz e acho que nunca li nada parecido em se tratando de amor... olhos constantemente marejados embaçam a leitura. Este lindo casal viveu junto durante quase sessenta anos. Dorine, sua mulher, foi sua amiga, musa, companheira de cama e trabalho e tornou-se a figura central na vida de André, incentivando sua escrita, carreira e silêncio... Neste livro ele conta essa história e faz a gente acreditar que os encontros são possíveis e que no fim, o que realmente importa é o amor. Se você está sofrendo por alguém, prepare os lencinhos.
Segue o primeiro paragrafo do livro:
"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher."
ai, ai...

25 de abr. de 2008

no mais espero alcançar tua harmonia. fui tão solitária até aqui. notas e noites desenharam minha partitura. sua trilha tão perfeita. dias dissonantes. meu violão perdido em tantos passos. o teu em pleno fluxo. escolhi você sem dedos calejados de alegria. minhas mãos só serviram labuta papéis canetas pincéis. eu on você off. duzentas mil rotações até te encontrar. minha vitrola está quebrada. percussões metais. tua corda de aço que não quer ceder. eu Fado você Tarantela. eu Tango você Maxixe. eu Seresta você Partido Alto. nós dois Samba Canção que fiz para você. sua falta pérola. minha paixão diamante. minhas palavras fogo. no teu coração água. você em mim grave. eu em você aguda. Pixinguinha, Vinicius, Dorival. nosso caso em qualquer tom. minha ópera Orfeu da Conceição a sua La Traviata. caso sério fato consumado disritmia cronica. eu música de acaso de Cage. você samba bem humorado de Noel. teclas brancas pretas. nossa história sanfona piano virtual. composição mal acabada. saudade vira a melodia do Carnaval.
Ilustração de R. Crumb

14 de abr. de 2008




Fui ler o Hajasaco e achei essa poesia. Eu adorei! E a pergunta é: eu já criei casca, coragem e poesia, será que estou preparada para perder ou achar outro amor?


A ARTE DE PERDER

É preciso perder um amor
- ao menos uma vez na vida -
para que se crie casca, coragem e poesia.
É preciso deixá-lo perdido
entre as quinquilharias sem importância
de um armário empoeirado
no bolso de uma calça rasgada
ou jogado na rua
de um grande centro comercial.

É preciso perder um amor
num domingo de sol
após um piquenique com as crianças
- e as formigas.
É preciso olhar o mar como quem vai se afundar
esquecer as contas
e desacreditar.

É preciso perder um amor
se sentir esvaziado
carente de significado.
É preciso caminhar tranqüilo
sem aquilo
que um dia foi o próprio caminho.
(andar com as mãos avulsas sem o calor e o balanço habitual).

É preciso perder um amor
no labirinto dos dias
seguir pegadas de chocolate
bater a cara no vidro
e quebrar o nariz.
É preciso ser um astronauta da saudade
ficar em órbita
e reconstruir satélites.

É preciso perder um amor
no cassino
apostar todas as fichas
e acordar falido.
É preciso ir até o fim
- mesmo que o fim seja logo ali
na boca do caixa.

É preciso perder um amor
para que alguém encontre
- em qualquer quebrada -
aquilo que foi deixado a esmo
na friaca do outono
num cantinho da casa
ou ao sabor (agridoce) do vento.

É preciso perder um amor
ouvir Chet Baker baixinho
entender as estrelas, a lua e a sarjeta.
É preciso ir ao cinema
rever os amigos
e tomar conhaque.

No mais é perder para depois ganhar...

Gilberto Amendola, 32, é jornalista e escreve no Haja Saco às quintas-feiras
http://hajasaco.zip.net/
O quadro é do Lucian Freud e chama-se "Ib and her Husband"

9 de abr. de 2008

hoje estou sem inspiração. me disseram que eu tava escrevendo bem pelos motivos errados. acordei nua. achei a Clarice pela casa. me domestiquei e paguei as contas. sobrou uma mensagem. saí sorrindo...

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector

8 de abr. de 2008



eu ando cansada. alguns suspeitam que é nostalgia fibromialgia apatia. deixo as coisas para fazer. é minha forma, minha liberdade. resisto a doméstica que mora em mim. estendo o lençol pia sala balcão. usei muita força para te esquecer e ainda sim tu. nenhum dente siso nenhum juízo. já não sou tão líquida. você mexeu mexeu enquanto eu fervia. agora esta pasta grudenta de areia e solidão. regurgitofagia. meus pulsos exaustos. minha garganta cheia de girinos a arranhar. homem ilusão. nossos pecados estão abençoados dentro de um baú.

eu ando realmente bastante cansada. alguns dizem que é anemia azia poesia. não há nada a fazer sem você. resisto as alcoólicas com autoridade. lavo os lençóis arrumo a cama te espero. não tenho mais se quer um apelo. nenhum dente. banguela de alma. você me deixou sólida. você fez o que fez e me desfez. agora sou esse peso de papel a segurar tuas ondas. sono plastia. meu corpo tão exausto de não se usar. minha boca tão seca de te esperar. homem ausência. nosso amor datilografado e arquivado na Biblioteca Nacional.

3 de abr. de 2008


Para Camila Prada, minha "grande" amiga


as tias sempre diziam: tá forte, corada, saudável! tava era gorda. minha mãe me enganou. empurrava batata doce, mandioca, farinha. para ficar com as pernas grossas. base robusta para sustentar minhas ramificações de Jatobá. sonhos impossíveis no quarto da menina. negava o rosa, o justo, o curto, as duas peças. sem entender a beleza Renascentista. sem entender o Gótico. sem entender as revistas caprichadinhas. adolescentes homens e sua crueldade. rejeição. uma vez uma professora de Antropologia, grande como um Botero, ensinou que já foi musa. um espírita médium foi quem lhe disse que se altura e magreza fossem beleza Girafa era miss Brasil. a irmã, fugindo da tradição, ficou magra e logo publicou: gordura nas coxas é carência! acho que tem gente que prefere definhar e gente que prefere explodir. a primeira vez que ouviu que tava magra demais se sentiu completamente ofendida aquela amiga. uma linda espanhola. ancas, pernas, peitos. sorriso magistral. uma provedora. instintos, conflitos. deixem-me crescer em paz! aceitação. calor. espaço. kilometros de espaço para preencher. decretaram a beleza Slim, a beleza sarada, a beleza maquiada por megapixels. crueldade com todas as carnes que não cabem. Alice, Cinderela, Bela adormecida, Amazonas, santas, Barbies. todas magrinhas coitadinhas. fraquinhas. desmilinguidas. a gordura é que dá gosto amiga. você nem gosta de vegetarianos. tanta coisa para pegar. tanto tempo para encontrar. beleza secreta do autêntico pecado!


2 de abr. de 2008

Projeto "Cada um a seu modo", duas peças inéditas no Brasil de Luigi Pirandello, estréia amanhã, vamos? A temporada no Sérgio Cardoso é curtinha... mas depois a gente vai para o João Caetano. Tem uma mãozinha minha lá! Vai espiar! Abraços





Deu zebra
meu avô só me ensinou a jogar dominó e pescar. não sou mulher de tabuleiros. nem de blefar. foi por conta disso que me deixou. sinto a falta dele como quem perde o gol. me tratou tão mal aquele desconsertado. fiquei dias e noites inconsolável. que pessoa estranha fica o apaixonado. não era pro meu naipe aquele safado. fui até meu Babá pedir ajuda. mandinga de amor cura. me enfeiticei para esquecê-lo. rezei para Ogum, meu guerreiro. pedi outro homen no meu terreiro. jogo de várzea esse seu. quero um grande artilheiro. mas ainda sinto uma gastura só de pensar. aquele homem canalha por aí a vadiar. tabela mal feita com seu Orixá. camisa amarela para não se entregar. uniforme de folguedo para não me amar. seu corpo leviano que já não quer me usar. lance arriscado. minha boca vermelha de puta a praguejar. aqueles olhos famintos, aquele homem vulgar. disse que não me quis para não me magoar. me deixou um desgosto de amargar. Ai, Vinicius não quis me ajudar. se não me trouxe aquele bandido, é porque boa coisa não há. acho que foi depois do Carnaval. ou antes de eu me acostumar. vou jogar no bicho, cachorro!

31 de mar. de 2008

uma dor pungente. meu encontro marcado com o engano. mais um porco transformado em pérolas. te espero para te perder. desilusão. meu corpo pede abrigo. deus me tira seu cobertor. te xingo. tenho a raiva das mulheres que correm. você não enxerga um palmo de mim. tuas escolhas são sórdidas. criança mimada querendo aparecer. te dei muita coisa. retiro o manto e visto a última camisa colorida. você não merece uma rainha. preferia chorar. você já usou minhas lágrimas. quis correr em ti. homem represa. enchente na minh'alma. me abandono neste dia. volto para o início do jogo. meu tabuleiro marcado. minha espera estratégica. seu cheiro no meu travesseiro. abri as portas à toa. não sou eu que estou ofendida, é meu corpo. tudo em mim se transformou. me sinto desprotegida. suma do que não entende. sinto uma pena gigante de todos os amantes. meu coração desafia o infortúnio. me sinto fraca para te querer de novo.

27 de mar. de 2008

Faço de conta que te esqueço surrando minhas saudades. meus versos estão acabados. meu amor em vão pede. tenho muitos sorrisos guardados para ti. a tristeza me cai como uma bigorna. te conquistaria na mentira. meus valores saltitam dentro de mim. criei meu mundo anarquista. espero alguém que entre sem medo. não sou obsessiva por chaves. desapego. janelas abertas. dores no peito. você sumiu dos meus sonhos obediente. minha cama abandonada em meu quarto verde e rosa. te desejo uma mulher comum. Amélia, Atenas e Penélope já não te querem. visões arredias de conforto. lembranças úmidas das noites quentes. não entendo meu desejo. fugiria do passado se soubesse. é urgente meu bem querer pelo poeta. não me destes nenhuma chance. te guardo junto com os objetos mais queridos. criança boba a brincar solitária. redoma de vidro em alto mar. espera que acaba com meu sossego. meus olhos te perdem. mostrei a minha fragilidade. mergulhei novamente nas abstrações. homem passarinho. minha gaiola. resmungo pelos cantos seu canto. mais uma queda dos Pirineus. me sinto quebrada.

24 de mar. de 2008

Logo vou colocar o vídeo "Never forever, forever never" aqui de outra maneira, mas quem quiser dar uma olhada, aí vai o link:

http://br.youtube.com/watch?v=Wjc8D7CsdZ4

Eu escrevi o roteiro baseado no conto "O espelho" do Machado de Assis, o meu preferido dele.


Me encontro da lado esquerdo de minha vida. Deus escreve certo com sua canhota. o mar turvo como eu previ. meus pés estão machucados de belas paisagens. todo o calor da madeira nas entranhas de meus ancestrais. sorrisos de alívio e honestidade. estou gasta. sinto essa saudade idiota. já não sofro pelas lembranças que não pesquei. horas a mercê do acaso. casa de brinquedo. naftalina. enceradeira. forro. cores e estampas. não tenho medo de carregar tantas pedras. me sinto forte momentaneamente. agora esta terrível sensação de conforto. já cheguei até aqui. minha mãe serelepe e rainha. meu comportamento é patético. eles se livraram dos misticismos. construo novas correntes filosóficas. estou perdida. me sinto esmilinguir nas tentativas de te achar. dentro dele mora meu homem governado por uma criança. passaram as ondas que eu queria pular. sou capaz de me libertar. renovamos nosso amor. me falta ainda um. lobo da estepe. tenho medo de me achar em mim. Nau a deriva.

20 de mar. de 2008

Pascoalina

Alegria súbita desiludida. confundo teu rosto nos sonhos. me faz um samba triste. esqueci todos os homens que quis. doses homeopáticas de carinho. falta dos teus. táticas das deusas virgens. fechada para balanço. sentimentos contidos. você em arquivo. meu arlequim cruel. sempre soube que não deveria pular carnaval. semana santa. máscaras fúnebres sobrevoam meu ateliê. poesia visual. teus olhos ainda tocam os meus. ciúme do que perdi em buscar. minhas roupas estão gastas de vida. sujeira em todos os meus cantos. essa casa ainda anseia por um rei. minhas folhas usadas vivem seu último momento de árvore. ramos da paixão. um oásis dentro da loucura. repito gestos piedosos e de fé. fostes antes de chegar. sua ausência me dói no estômago. meu altar não agüenta mais me ouvir. minhas forças te suportam longe. me sinto muito só. quero acabar com a distância. por quê não me quisestes? te achar de novo. quatro ombros em outro rio. batismo de cachaça. te dar meu mundo. feriado cristão. mar turvo sem tuas notas. mea culpa. uma vez na vida tento ser paciente. meu corpo inteiro ainda arde.

18 de mar. de 2008

Vixi, eu tô que tô!
Ganhei essa poesia hoje, foi uma surpresa, sentei na frente dessa máquina, abri meus e-mails e lá estava, chorei... porque ultimamente, e isso é bom, tenho chorado mesmo! Obrigada Florbela!

Rodamoinho

p/ Anike Laurita

antes eu conhecesse de você
mesmo sem nem você nem convidar
foi só pousar as vista e ogunhê
é quem chega quem leva quem traz mar

tiro no escuro, aí que a gente vê
se tanto fogo é palha ou tronco ipê
olho dágua na encruza do lugar
borbulha o rodamoinho no luar

se for perder nas onda de quem ama
vira prum lado vira pro outro lado
firma nessa canoa, o fundo chama

entre o mar entre a mata ta encantado
se cruza o pé na brasa não reclama
o que é do meu caminho ta guardado


da Florbela de Itamambuca
www.escritorassuicidas.com.br



Meus olhos, caleidoscópios
ainda te coloriam de coisas que não eram suas.
Eu podia confiar em você.
Agora, as lentes, molhadas, gastas,
surradas do uso indevido,
não se utilizam mais.
Agora vejo um homem, um amigo, um artista.
Não te vejo mais, isso incomoda um pouco.
Vejo mais carne, mais osso, mais pele,
abstraí de você umas poucas lembranças,
já etéreas, já batidas, descascadas,
misturadas com pitadas de verdade,
cozidas em banho Maria,
distribuídas em porções de tempo
na superfície da pele...
Ainda bem que esse tempo acabou antes do fim.
Agora resta a saudade do que não fomos.

17 de mar. de 2008

Cercada por estas bestas,
homens tão terríveis!
Lembram aquele homem maldito imaginário,
inconsciente coletivo da escória.

Observam-me como hienas,
rindo de minha fragilidade.
Não sabem de onde eu vim,
Harpia disfarçada,
milhões de anos de gestação;
Todas as mulheres humilhadas guardadas em mim,
aguardando a vingança.

Se Zeus caiu, por quê pensam vocês que não cairão?

Desistam, já não há perdão!
Agora só resta aguardar.
Sorrateiramente estarei ao seu lado,
com todo o veneno ingênuo,
das pequenas mulheres enganadas.
Estarei onde menos esperam:
No sorriso de sua filha;
No batom de sua puta;
No calor dos abraços de sua esposa;
Na adolescente colegial;
Na garçonete cansada.

Em cada uma dessas mulheres
maltratadas por seus olhos
que desejam dominar, possuir, rejeitar.
Deus é mulher!
E está aqui a planejar.


O céu chora por mim

A chuva ,
agora abusa de mim e chora...
sem sono, sem tua casa
me sinto a mais mendiga
em busca de alguma coisa
que me tire disso
Mas não sai...
teus carinhos, será?
Não tenho mais pra te dar...
te dei minhas lágrimas
que insistiam em não cair
e resolveram despencar
na reação inútil
de acalentar meu coração
que há tempos não descompassava...
mas outra te apareceu,
pra confundir tuas incertezas
e eu fiquei de novo, ao léo
no meu deserto, tão seco
pode chover...
não vou me molhar,
agora fico como era,
apenas uma mulher a te esperar...

13 de mar. de 2008




De onde veio a mendiga

Carregando tanta mandinga?

E me diga

Pra onde vai tão aflita?

Se Laurita é mesmo o samba da vida...




Essa eu ganhei de presente, da Van, minha querida amiga, que tem sido uma ótima companhia em tempos de tanta intensidade! Obrigada, me senti...
A Ilustração é do J. Carlos.

11 de mar. de 2008



Essa não fui eu que escrevi, mas bem que poderia... não preciso dizer mais nada...
Foi a Adília Lopes, que foi um grande achado literário, uma portuguesa, contemporânea, uma incrível poetisa.

Eclesiastes

Tempo de foder
tempo de não foder
saber gerir os tempos
compor
saber estar sozinha
para saber estar contigo
e vice-versa
aqui estão as minhas contas
do que foi

10 de mar. de 2008




Pedi ao poetinha que me explicasse a vida,

as engrenagens desta coisa que só sei sentir.

Sou apenas uma mulher,

dessas que ele deve ter cruzado;

Me diz que ser feliz é viver morto de paixão.

Meus lutos cansaram...

Querem viver num samba qualquer;

Meus amigos estão presentes,

plantonistas,

sem falhas, nem perdas.

Os outros caminhos,

aqueles do coração,

crio rotas de fuga

todo tempo, o tempo todo.

Defumo a casa, acabo com a festa

me tranco no quarto, desisto de mim.

Busco a mulher que sou acordada.

O Poeta da paixão me salva.

Sou forte com você,

entrego as cartas,

dou meu colo, meu mundo,

minha mais doce e cruel reação;

Criança domesticando uma águia.

Confesso nessa inútil poesia:

Queria ser dessas mulheres que dizem não.


Para o Pedro, que eu conheci no Carnaval, um Arlequim bandido...



7 de mar. de 2008



amicus humani generis

No dia em que rompi com as máquinas
pensei crer no ser humano
sua auto(in)suficiência
que dano - que erro
engano engodo
descrédito fim

não saí de casa
engrenagem da porta atravancada
elevador parado
porta elétrica me eletrocutou
carro parado
telefone não toca
computador deixou sua existência
te perdi nos pixelados retratos
de nunca mais

meu coração quase parou
por engano
marcapasso do meu avô

trair-me-ia
no mais arcaico anta-ante-anti-coloquialismo
se tentasse o suicídio tentei

sou mais máquina que outrora
agora me vejo em desespero
maquino pensamentos remôo
penso pensamento
trai-me mais uma vez

gritei gritei gritei
por socorro
por amigos de uma rede de intra-redes
como tarrafa virtual
nós de atos inter-relacionais
gritei com o peso das bordas

ninguém me veio ali

não tenho amigos
acreditando em todos eles
ninguém me veio ali

desistei

Eu parei
escrevendo tal textocídio
não creio em seres humanos
escravomaquinatas
não confio em máquinas
tão impiedosas

talvez precise de um cachorro ou um quadro –







amantis humani regeneris

no dia em que rompi com o amor cibernético
pensei crer de novo no ser humano
na sua auto-suficiência
seus danos – seus erros
seus enganos, incômodos
seus créditos sem fim

saí de casa
engrenagem da vida destravada
relógio parado
carne elétrica me eletr(ocultou)
coração parado
telefone toca
computador abandonado
te achei nos auto-retratos que pintei
pra sempre meus

meu coração quase acalmou
por engano
marcapasso disparou

me traí
no mais tradicional anti-romantismo
resistindo ao suicídio

sou mais gente que outrora
agora me vejo sem desespero
regurgito pensamentos
sinto sentimento
cansei de me trair

chorei, chorei, chorei
por amor
mas amigos de uma teia tão tecida
a tarrafa que joguei
nós desatados de relações não virtuais
cantei com a leveza das orlas

me acharam ali

tenho amigos
amando todos eles
chegaram a mim

procurei

não parei
escrevendo tal fragmento
eu ainda acredito nos seres humanos
psychécorpórea
desisti das máquinas
tão ultrapassadas

talvez precise de um amor ou uma dose -
Do lado direito Paulo Serau, um cara aí que até que escreve bem, eu resolvi responder do lado esquerdo, uma versão que chamo de Pollyana Hiper-moderna...

5 de mar. de 2008

Fui cruel e chorei.
Matei dezenas de formigas,
traí minha natureza...
Devoravam meu mel,
não toquem no que me resta de doçura.

4 de mar. de 2008

meus olhos não brilham mais como antes. meus amigos já desistiram de me falar sobre minha arte. minha angústia continua transcendental. tenho agido mal com os homens. Atenas anda me supervisionando. amei muito pouco coisas específicas. ainda acredito na humanidade. estou completamente desconcentrada das coisas práticas. mergulhei num profundo mar de abstrações. prefiro não enxergar tão bem. gostaria de sentir os cheiros das lembranças de novo. apenas as coisas mais naturais tem me acalmado. o silêncio anda gigante. minhas roupas estão largas como meus abraços. estou sufocando com a espera de minha atitude. poderia ir embora agora que ninguém notaria. alguém me espera em algum lugar. uma teia de aranha anda me assustando. estou sem apetite para as comidas. devore-me. quando eu desistir não quero mais. já não há flores em minha casa. os livros estão escondidos, junto com os diários que revelam uma pausa na minha vida. tic, tac, tic, tac...

1 de mar. de 2008

já destrui lares inexistentes. reconstrui castelos de areia. enviei flores de plástico. me auto-subornei dezenas de vezes. trai Medéia e cortei a cabeça do pai. cuspi no pão que o diabo amassou. roguei pragas em forma de oração. justifiquei os erros dos outros. andei descalça no piso frio. sou uma mulher com um gênio terrível.

21 de fev. de 2008

Espero há tempos e no fundo sei que não virá assim. enrolo as lembranças em papel de alumínio e ponho para assar. uma pitada de esperança, duas doses de conhaque, pimenta e suor. minhas bruxas estão soltas. minha casa anda cinza por trás de todas as cores. andei vagando pela madrugada catando papéis. biscoito da sorte e horóscopo eu desisti. queria uma coleção de vestidos de bolinhas, um sapato de boneca e uma fivela igual a que minha me deu e eu quebrei no primeiro dia. minha respiração não é boa. ansiedade. é normal ter tanto amor? fogo, bagunça. movimentos aleatórios e solitários. acho que estou com tendinite. facilita minha vida e tira minha roupa? desacredito no medo. ai, Vinicius, protege os fugitivos. um dia eu concerto o eixo central. meus filhos ainda nem pensam em existir.minha sensibilidade anda me irritando. não consigo mais correr. tantas manchas roxas pelo corpo, tão poucas deixadas por você. fui fiel, leal, comportada e generosa, e agora? escolhas sórdidas. absurdo. que eu seja. meu homem anda perdido no meio de lobas.arlequim. eu ainda não menti de verdade. deve ser por isso. natureza é loucura. a fascinante violência das flores não recebidas. um pescoço sem um beijo é uma agressão.
Ando me sentindo.
futebol e física quântica. cervejas. panóptico. saudades. reminescências. carência transcendental. namorados, amigos e parentes. dexistencialismo. conflitismo, uma corrente para os novos tempos. fuga do deserto. saudações ao mundo. milhões de particulas. uma dor. pequenas falhas. grandes conquistas. fogo. imagens. um corpo. dois corpos. ação e reação. ontologia. contas. música. sorrisos. chuva. deja-vú. tédio, tédio. coleção de idéias, bem guardadas no escuro. E cadê você que ainda tem medo de sofrer?

19 de fev. de 2008

Eu tinha cabelos loiros e cacheados. Adorava pegar girinos e ficava muito brava quando diziam que não eram peixes. Meu piquinês se chamava Pink. Uma vez eu roubei uma coxa de galinha da ceia de natal. Meus seres imaginários não eram muito criativos. As vezes eu achava que mamãe era uma bruxa. Casa de madeira. Coração de lava. Lareira com carneiros. Saco de brinquedos. Tempestades. Lambreta azul. Meu namorado fictício se chamava Ed. Ele foi um cara bacana. Pensamentos sujos. Pensamentos ingênuos. Meu pai sempre foi tão bonito e bravo, nossa!Existem corvos por aqui? Acho que lembro de espantalhos, com Raybans, estranho. Vidro de vagalumes. Caixa de motorzinhos. Gibis empacotados. Eu não tinha idéia. Viajei por mundos oníricos e perdi muita bagagem. Gosto mais de brinquedos agora. Recortes, tintas, martelos. Meu primeiro porre foi de quentão. Banheira de alumínio. Colchão de palha. Almofada de crochê. Vocês sabiam e não me contaram. Cavalos, cachorros, bois. Ambientes deliciosamente envolventes em raios de sol. Gavetas, portas, chaves. Milhões de chaves e nada para abrir. Fecha aqui, fecha acolá. Rios, rios, rios. Continuo corrente. Barro, barro, barro. Sou muito mulher. Milhões de pedrinhas, era para parecer mais difícil. Dei a volta. O mar. Infinito. Grama, balanço, pinheiro. Não esperavam isso de mim. Só perceberam que eu sou sensível quando eu parei de chorar. Barbapapa. Vinil, gloss, gliter. Eu não gosto de discoteca. Chinelo virado. Andar descalço. Fazer cara feia. Eu era uma criança terrivelmente obediente e isso me magoa. minha vingança era doce, tesourava os cabelos. Franjas tortas. Carros, carros, carros, eu não dirijo. Não quero. Isso, me deixem só num canto. Escrivaninhas, lápis, papel. O teto em cima de mim. A noite cintilante, despencando de estrelas. Frio, frio. Eu tomo muito banho gelado, coisa de gente muito forte. Eu to quase chegando em mim de novo.

15 de fev. de 2008

Quanto mais eu tento ser normal, mais me embaralho, que engraçado né? Acho que tem gente que nasce assim mesmo. Desisti de sublimar. Amarrei muitas pipas em fios de alta tensão. Resolvi voar baixo e bater de frente com as Andorinhas. Mesmo respirando fundo sempre sobra ar. Já tinham me avisado que se eu não tomasse cuidado eu poderia flutuar. Meu mapa astral disse que eu ia casar duas vezes. Que bom, tenho mais uma chance para dividir com 7 vidas. Isso dá positivo ou negativo? Se eu pudesse eu embaralhava o tempo. Ah, eu já faço isso! Quando eu decido, já era. Quando foi que meus olhos se fecharam? Se eu sonhar com você em que bicho devo jogar? To precisando de tintas. Vou burlar a escadaria. Eu posso ficar quantos dias esperando para dizer adeus? deve existir uma regra para isso. Me olhei no espelho, estou com olheiras.

7 de fev. de 2008

ai de mim


Ai de mim, que não desisto... eu prefiro um pássaro voando. eu não aguento minha casa vazia. eu juro que vou mudar. quando minha mãe vier vou encher ela de beijos. acredita que eu era tímida? e ainda sou, mas agora sei disfarçar. tem uma horas que eu não acredito. catarse. eu não sabia que eu ia dar nisso. eu era só ua menina. nunca disse que não era louca. eu sou é umas mil. meus brinquedos estão empoeirados.com quantos átomos se faz um sorriso? você já viu, mas nem deu bola. se eu mergulhar no arco-íris eu vou sair de que cor? por que ninguém me responde? eu ando cansada ultimamente, mas é lá no fundo. ontem achei que ia ficar calma. dormi e sonhei de novo. eu sou bem parecida com meu pai. será que ele senti tanta angustia? eu quero ser palhaça e morrer de rir. matar só se for de amor. mas as pessoas andam assustadas. alguém aceita um beijo? que decadência ter que oferecer. vou andar mais na sombra. o mar tá cheio de tubarão. todos os meus amigos por perto, agora! será que um dia passa essa melancolia? que lindos olhos quando pensam. eu vou me retirar pela direita. um dia eu tomo jeito e viro criança de novo. agora foi.

8 de jan. de 2008

esperanças renovadas


Tem uma hora que a gente percebe que tá fazendo a coisa certa, também depois de tanto tempo batendo a cabeça, tantas horas de solitária reflexão, tantas cervejas mal bebidas, tantas lágrimas escondidas, tem que acontecer alguma coisa. Voltei de minha ilha, revi amigos, passeei pela minha geografia emocional, deitei do lado da mamãe, tomei o melhor banho de mar do mundo, entre outras coisas... Passei o reveillon sossegada, zen, ligth, rsrs... Senti saudades de alguém que dessa vez, depois de 7 anos, não estava por lá com sua incrível capacidade de transformar tudo em doçura. Tive a famosa crise do retorno, que durou pouquíssimo, porque quando cheguei em Sampa, uma chuva de amigos queridos já apareceram, novas propostas, novos projetos, como se a cidade me dissesse nas entrelinhas: "Você é nossa!". Senti pela primeira vez nesses quase 5 anos, uma segurança, pequenina, porque esta é uma sensação sorrateira e perigosa, de que o caminho que venho fazendo não é tão displicente e torto, quanto meus pobres conceitos rígidos me ditam. E aí senti um medo terrível, de chegar em algum lugar. Algo que algum psicólogo já deve ter dado um nome tipo "síndrome da felicidade eminente". Aí a única coisa que eu poderia fazer era ir dormir na casa do Dani, bater um papo gigante e maravilhoso como sempre e depois assistir Heroes pela primeira vez e pensar: " somos todos heróis nesse novo mundo, é ou não é?"