30 de out. de 2012

tenho cabelos espalhados aos ventos do sul. sinto um frio que não passa que só cura com abraço. me emociono só de pensar que posso sentir amor. virei mocinha assustada do interior de meus sertões. por lá as histórias tristes deixam marcar a cor de carmim. mordo por deselegância mesmo e já não durmo se lembro dos sonhos de maneira ofendida. estas novas cicatrizes nunca enfraquecem a dor das horas machucadas. curei apenas uma borboleta, um beija-flor e umas horas. noiva sentada na pedra debaixo da árvore. ainda pensa que seu vestido branco é o da primeira comunhão com a salvação.

3 de jul. de 2012

a lua maltrata meus sentidos e o filósofo me deixou pessimista. muito expressionista e austera. você ainda não me contou seu segredo. eu tenho que virar ilha para perder mais um pouco de mim. está na hora de cortar os cabelos e tentar salvar um pouco da poética sôfrega. só poderás me puxar para ti se me pegares pela mão. sem medo, sem medo. escuto o silêncio do mundo no caos desta fera. não há cosmos. tenho um pouco de dó dos tolos e muita consideração pelos que conseguiram se distrair desta maldita e infindável angústia. eu não. sempre essa tola sofredora com dois terços de instinto e o resto de uma razão surrada. hoje não era dia de romance? as moiras teçam sem cessar suas linhas coloridas. me amarram. me sufocam. e você por que não larga esse esconderijo e vem me salvar?

15 de abr. de 2012

Femme Maison - Louise bourgeois 1994

vasto costão de pedras mudas. nenhuma vênus. nenhum brancusi. nada para modelar. o pó que cobre os livros não vale um cigarro. já não se ama como antigamente nesta paisagem de mármores frios. mesmo nas notas quentes. arranco meus olhos por enxergar demais. jogo xadrez no escuro que é como se deve levar o tempo. não me faça sentir pertencimento, é doloroso. você leva chaves ferramentas imagens. e o céu despenca de memórias. essas pedras se movem. fantoches conduzidos por linhas de ouro. te encontro e acordo. teu signo ainda grudado em mim.

19 de mar. de 2012



obliterada por uma vontade de nãoseiquem
desperdiço as horas, os poemas, a beleza que ainda me resta.
não concebo essa existência vazia.
onírica estou sempre,
vadia e corrompida por uma história romântica.
se ao final, quando a barbárie chegar, estiver ainda nessa doce busca de Alice,
espero que comprem para mim um vestido rosa, um pente com fita,
um dicionário de sinônimos e chamem os amigos.


Pintura de Eva Hesse

27 de fev. de 2012

há mais confetes que emoção
na derrocada da quarta de cinzas.
ainda se pode ao longe ouvir pela memória
indizíveis gargalhadas,
todas banhadas em paetês e salivas,
todas confusas no tempo da brincadeira.
quem é o parvo que acredita nisso?
nessa ilusão programada,
nessa espera pelo Pierrô ou pela Colombina,
nessa contínua indecência de achar mágica
onde só existe corpo.
há mais retalhos agora para serem costurados,
hora de arranjar caprichosamente
um novo estandarte.



16 de fev. de 2012

Para os ébrios e as evas.

Chegastes que nem um Barão ébrio,
em noite de fanfarra e como dizia o oráculo.
Por me tirares de uma palidez alegre,
sempre disfarçada em um incomodo,
de mulher-mar que não se aceita,
invadida, te invadi.
Ninguém pode me dizer:
Ninfa, harpia, menina!

Se tivesses Barão, sido inexato...
não terias assistido a fúria da mulher transcendental.
Nascida em um desterro,
só posso oferecer ondas e ventos.
Mas a brisa é suave, assim como a maré baixa.

Enquanto tu te conformas com teus encontros,
desconstruo igrejas a procura de Eva.
Que já não é verbo, não é pecado, não é nudez.
Só nos restam costelas e corações,
evas infinitas riscadas com um carbono,
que nunca virarão diamantes.

Isso começou, Barão, há muito tempo,
um tempo que há tempos não fala,
e calar sempre foi nosso,
um silêncio perturbador,
cheio de palavras que não dizem nada.

10 de fev. de 2012

Elegia à Marc Fischer

Passo as horas quentes desta tarde de fevereiro tentando te encontrar Marc.
Por que você partiu assim sem receber sua dose de Bossa?
Agora sou sua Watson nesta investigação e é elementar que você estava exausto.
Mas... do que?
Da vida moderna, dos amantes enganados, da subversão da arte, da busca pela solução mágica contra a solidão e a estupidez humana?
Perdemos um romântico, perdemos mais uma alma sensível para o aferroador mundo das aparências.
Não te encontro Marc.
Você já deve estar em Capadócia contando suas histórias do Rio.
E eu, que sou esse deserto lotado de amor e insucessos,
nem te dei um beijo ao som de Ho-ba-la-lá.