19 de fev. de 2008

Eu tinha cabelos loiros e cacheados. Adorava pegar girinos e ficava muito brava quando diziam que não eram peixes. Meu piquinês se chamava Pink. Uma vez eu roubei uma coxa de galinha da ceia de natal. Meus seres imaginários não eram muito criativos. As vezes eu achava que mamãe era uma bruxa. Casa de madeira. Coração de lava. Lareira com carneiros. Saco de brinquedos. Tempestades. Lambreta azul. Meu namorado fictício se chamava Ed. Ele foi um cara bacana. Pensamentos sujos. Pensamentos ingênuos. Meu pai sempre foi tão bonito e bravo, nossa!Existem corvos por aqui? Acho que lembro de espantalhos, com Raybans, estranho. Vidro de vagalumes. Caixa de motorzinhos. Gibis empacotados. Eu não tinha idéia. Viajei por mundos oníricos e perdi muita bagagem. Gosto mais de brinquedos agora. Recortes, tintas, martelos. Meu primeiro porre foi de quentão. Banheira de alumínio. Colchão de palha. Almofada de crochê. Vocês sabiam e não me contaram. Cavalos, cachorros, bois. Ambientes deliciosamente envolventes em raios de sol. Gavetas, portas, chaves. Milhões de chaves e nada para abrir. Fecha aqui, fecha acolá. Rios, rios, rios. Continuo corrente. Barro, barro, barro. Sou muito mulher. Milhões de pedrinhas, era para parecer mais difícil. Dei a volta. O mar. Infinito. Grama, balanço, pinheiro. Não esperavam isso de mim. Só perceberam que eu sou sensível quando eu parei de chorar. Barbapapa. Vinil, gloss, gliter. Eu não gosto de discoteca. Chinelo virado. Andar descalço. Fazer cara feia. Eu era uma criança terrivelmente obediente e isso me magoa. minha vingança era doce, tesourava os cabelos. Franjas tortas. Carros, carros, carros, eu não dirijo. Não quero. Isso, me deixem só num canto. Escrivaninhas, lápis, papel. O teto em cima de mim. A noite cintilante, despencando de estrelas. Frio, frio. Eu tomo muito banho gelado, coisa de gente muito forte. Eu to quase chegando em mim de novo.

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