4 de fev. de 2009

"Girl with leaves" - Lucian Freud


Tenho saudades do quintal da velha senhora, onde todos os tipos de flores se encontravam, desarmonizando-se felizes e multi cores. pelo copo-de-leite, nutria eu especial sentimento. Como uma flor pode ser tão branca e trazer consigo tanta alma... tanta lembrança?

O meu peito que é pequeno e confuso, sente agora um pesar difuso. E sente, tão desesperadamente, que parece antes nunca ter sentido nada.

Tenho pena do teu desejo contido, miserável e faminto que me comove mas não me ascende.Tenho pena dos bares vazios, da comida que fermenta na geladeira, esquecida e desperdiçada.

Tenho pena das palmeiras da alameda, onde os carros passam sem contemplação, atrasados de futuro.

Tenho pena das mulheres que nasceram meninas e também das que nasceram meninos, seminuas de desejo na calçada fria.

Tenho pena da crueldade inocente do aquário, que vive sem convivência, barreira invisível entre a dor e o nada.

Tenho pena dos copos quebrados que nunca m,ais sentirão o calor de um lábio impuro, o sabor de uma amargura.

Tenho pena da fumaça que sai do cigarro repleto de motivos, da lâmpada incandescente, piscando incessante até morrer definitivamente.

Tenho pena da coruja morta no meio da rua, visão triste e recente do improvável.

Tenho pena até dos gatos. Brancos, pardos, pretos... na noite clara, que incomoda o sono pela fresta.

Tenho pena do meu ódio remorso, amor congelado que não vê a si.

E maior do que qualquer outro, tenho pena do olhar desconhecido, que um dia também me olhou assim, compadecido.


Juliana Fernandes Vieira

Setembro de 2008

Minha amiga, irmã e parceira Juca Bala.

2 comentários:

Claudia Venegas disse...

Cheia de sensibildade essa poesia, parabens!

Anônimo disse...

Negona, que honra estar aqui no teu blog... surpresa boa num ensolarado e atormentado dia...
Minha irmã, meu par, a raríssima pessoa que me deixa sem palavras.